Desta vez tinha decidido que iria ser para sempre. 
Farta do estado de desorganização em que me encontrava, arrumei tudinho. No final tinha-me mais leve e à minha frente estavam imensos livros, empilhados, prontos a serem guardados eternamente.  Talvez sirvam de amparo a alguém, um dia. Coloquei-os em caixas de cartão, fechei-as com fita castanha e quando, finalmente, estavam prontas a ser transportadas escrevi em cada uma delas a palavra FRÁGIL. Levei-as à loja do sr. Simões, o alfarrabista da cidade. Pedi-lhe que tomasse conta de cada um deles como se fossem realmente seus e disse-lhe também que estava à vontade para os vender ou pôr à disposição para consulta. Estava feito! Tudo, até então, estava, agora, entregue ao sr. Simões e eu tal como uma tela em branco pronta a ser pincelada. Disposta a ter em mim escrita uma nova história.
Passaram-se semanas, talvez meses, e, para além de não ter conseguido deixar ninguém escrever por cima daquela que já foi a tua folha de rascunho, precisei de te sentir. Quando cheguei à loja, pedi que me deixasse vê-los. Fui abrindo um a um... Todas as páginas em branco. Só aí percebi que tudo aquilo que vivemos a dois era impossível exprimir e que apesar de o ter escrito, eram memórias nossas e recordações. Que por isso tinham voltado para o sítio de onde saíram, dentro de nós, onde irão permanecer mesmo que lutemos contra isso.  
Lembra-te, meu amor, que não vais poder esquecer todas as conversas, que não vais poder esquecer as noites em que me beijaste a testa ao desejar-me boa noite e que não vais poder esquecer as vezes em que sonhamos juntos, agarrados um ao outro. Não vais poder esquecer o corpo em que tocaste, aquele que transpirava prazer sempre que o amavas. Lembra-te, meu amor, que porque assim o quiseste, não irei fazer mais parte do teu começar do dia. Eu sei bem o quanto gostavas dos meus beijos de bom dia, ainda assim bateste a porta com força e deixaste-me sozinha com o teu odor entranhado nas roupas de cama. 

1 comentário:

  1. skins é só das melhores séries que aí andam :)
    este texto está qualquer coisa de fenomenal, sei bem o que é tentar arrumar a casa, e no entanto estar tudo entranhado nas "paredes"...

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