Tenho muito para dizer. E nada, ao mesmo tempo!

livres (?!)

"Uma gaivota voava voava: asas de vento, coração de mar. Como ela somos livres. Somos livres de voar."
Estava a chegar da escola. Pousei a mochila sobre o cadeirão, despi-me e atirei-me para o colchão. Reparei na janela que estava aberta e houve um brisa suave, quente, com cheiro a Primavera que entrou e me envolveu como se de um lençol de cetim se tratasse. Fiquei ali, ... deliciada com o cheiro a fresco que o meu quarto acabara de ser invadido.
Saltei da cama, vesti aquela t-shirt que deixaste comigo da última vez que cá estiveste. Ainda tinha o teu odor. Agarrei-a contra o meu peito e pensei Meu Deus, como é que foste capaz? Com toda a intenção foi? Peguei nos óculos de sol, que eram da mãe, que estavam em cima da cómoda branca e desci a escadas descalça com os dois chinelos na mão. Desatei a correr em direcção ao «nosso sítio». As borboletas passavam por mim e nem a cor das asas conseguia distinguir. Era tudo vago e distante. O mundo parecia parado.
Quando finalmente calquei aquele areal imenso, senti-me nas núvens. O sol não brilhava com a mesma intensidade. Agora já não te tinha comigo mas precisava de lá ir à mesma. Precisava de pensar. Aproximei-me do mar. Sentei-me e deixei cair os braços ao longo do corpo. Pousei a palma da mão na areia e depois cerrei um dos punhos com toda a força. Olhei bem para ela e à medida que ia relaxando, os grãozinhos frios e dourados escorriam por entre os dedos. Ali estavas tu. Vi-te desvanecer com o tempo sem nada poder fazer.
Pus os óculos e quando dei por ela, as minhas lágrimas já os meus lábios tinham salgado. Houve uma gaivota que, naquele instante, me sobrevoou. Como seria bom ser tão livre assim! Porque é que me dizem que o sou se me sinto presa a ti?

Shhh

Sinto-me incapaz de avançar. Estou parada no tempo. Ainda te amo.
E tu, o que sentes?

Adeus, Inverno...


Bem vinda, Primavera! ♥

Fotografias por A. Catarina Campos

sem título

Desta vez foi diferente. Voltei a desviar a cortina para poder abrir a portada. Quando pisei a primeira tijoleira da varanda senti que algo estava diferente. Algo tinha mudado.
São 7h da manhã e não faz tanto calor. Ouvem-se as gaivotas como nunca antes e, desta vez, parecem querer comunicar. Fazem pequeninas imagens no céu. É mais do que óptimo estar, assim,... aqui. Juntem-se a mim, por favor. Este não é o 207 mas... 805. Sim, é esse. É quase igual... Hmm. O cheiro é o mesmo. Os móveis são iguais. Até o tecido da cortina e das almofadas do sofá.
Lembrando-me de tudo o que cá passámos, desvio o olhar e atento na coloração feita pelo tempo das tijoleiras que cobrem o seu chão, antes branco, agora crú. Volto a olhar em frente. Uau! Só se veem prédios,... enormes. Quero ficar aqui a ouvir as gaivotas e a ver tudo isto durante mais algum tempo. É lindo. Há 24 horas acordada e agora não posso dormir. Vou mesmo ficar aqui. Shhhh,...
As gaivotas. Ouve só!

foi um sonho real

Rasgas-me a roupa sem qualquer pudor. Enquanto buscas o ar pela boca, passeias o teu cheiro no meu corpo. Por entre os braços misturo tudo. Após o prazer ficaremos mudos sem saber se é por uma noite.
Grito teu nome sem saber como será o amanhã. Foi um sonho real.
Por uma noite, KLEPTH
ANDREI - Em Moscovo, sento-me numa sala enorme de um restaurante, não conheço ninguém, ninguém me conhece, e mesmo assim não me sinto estranho. Mas aqui, conheço toda a gente, toda a gente me conhece, mas sinto-me um estranho, um estranho. Estranho e sozinho.
in Três Irmãs, Anton Tchékhov
Eu sabia que a nossa amizade não era assim tão fraca!
Adoro-te

quanto tempo mais?

Como é que conseguiste? E o nós, que existia, onde fica?
Todas as promessas ...
Não as vais cumprir, pois não? ... Eu sabia!

conseguiste partir(-me) sem dizer uma palavra


Edgar, meu príncipe!

Sentada no cadeirão, iluminado  pelo mais bonito candeeiro de pé dourado, olhei para a janela e vi as pedras da calçada, gastas pelo tempo, serem encharcadas pela chuva. O vento, mais veloz do que eu alguma vez vira, soprava e consigo levava tudo. Talvez um presságio ignorado! Havia árvores quebradas no chão e os arames já não suportavam a roupa que a Senhora Elisa tivera estendido antes de se deitar. Toda ela estava caída no chão, sobre a lama.
Como em todas as outras noites, ali estavas tu. Olhei para ti deitado na nossa cama e senti um arrepio. Estava definitivamente a precisar do teu calor. Deitada ao teu lado, ... acabei por adormecer.
Pensavas que, quando saiste, ainda dormia mas a verdade é que te vi partir sem saber se um dia ias voltar. Ouvi a porta bater e percebi que era como se tivesses dito "Adeus! Desculpa-me". Hoje tenho uma cama gigante. Sinto-me minúscula. A casa era nossa! E agora pergunto-te: "Porquê? De que me serve uma cama tão grande, agora?