Não me sinto extremamente emotiva, só triste por as coisas não terem resultado. Talvez uma parte de mim soubesse que não ia resultar. Talvez me tivesse estado a preparar para isso.
No ano passado vivi muito feliz a minha vida de mulher solteira. Não queria envolver-me com tipo nenhum, não queria o incómodo de ter de lidar com os problemas dele. Acho que isto se devia, em parte, a sentir-me traída pelo Steven e, como tal, a não confiar nos homens, mas devia-se principalmente a eu querer divertir-me deitada de costas e sem compromissos.
E foi o que fiz. E se o fiz! No geral, foram bons tempos: gostei de todas as minhas experiências, até das más.
Mas o problema com o JB abalou-me um pouco. Ali estava eu a aproveitar a vida como uma mulher solteira e senti que tinha encontrado nele algo que queria, algo mais do que uma noite de sexo desenfreado.
Costumava pensar que ter bons orgasmos é que era importante e que se um tipo fosse bom na cama, eu ficaria satisfeita.
Mas depois das experiências que partilhei com o JB cheguei à conclusão que até o melhor sexo do mundo, a longo prazo, pode não satisfazer. Agora preciso de algo mais. Posso ser obcecada por sexo, mas até a ideia de orgasmos múltiplos com um amante fantástico me começou a parecer vazia, porque não há emoções envolvidas.
Nos últimos dias, descobri outra coisa: talvez o JB representasse aquilo que até, recentemente, eu pensava que não queria: uma relação... um companheiro. Agora vejo que pode ser uma mais-valia para a minha vida e não um obstáculo.

em Rapariga de Ideia Fixa por Abby Lee
Ontem à noite voltei a ver o JB. Tentei não ir para a cama com ele mas o meu desejo era demasiado forte. Quando fomos para casa dele, soube que tinha de ganhar coragem para conversar com ele. Não podia entrar no Novo Ano sem saber como estavam as coisas. Isto está a dar-me cabo da cabeça.
Como se soubesse no que estava a pensar, foi ele o primeiro a abordar o assunto, mesmo a seguir a termos caído exaustos sobre a cama dele depois de uma longa e maravilhosa foda.
- Então, tiveste alguma acção natalícia? - perguntou-me.
- O que queres dizer?
- Tu sabes. Fodeste alguém?
Fiquei surpreendida por me ter perguntado isso. Com certeza que saberia que agora eu só queria estar com ele. Poderia pensar mesmo que eu quereria estar com outro homem?
- Não - respondi-lhe baixinho. Tu és a única pessoa com quem tenho dormido nos últimos tempos.
Ele ficou calado durante algum tempo.
- Há alguém de quem gostes, com quem queiras foder?
- (Não, só tu. Estou a apaixonar-me por ti e gostaria que tu te estivesses a apaixonar por mim.) Não - disse eu, ainda mais baixinho. Mesmo ninguém. E tu?
Abanou a cabeça. Não.
Perguntei-me porque teria perguntado aquilo. Talvez estivesse só a ser amigável e a fazer conversa. Mas talvez houvesse a possibilidade de ele também sentir algo mais por mim e de estar a apalpar terreno para ver se eu levava a relação a sério. Era agora ou nunca.
Por isso respirei fundo e perguntei-lhe o que queria ele ao estar comigo.
Hesitando um pouco, ele disse-me que não tinha a certeza mas que o instinto dele lhe dizia que nada aconteceria entre nós, que ele não via um futuro comigo.
Senti-me a ficar sem reacção. 
O JB segurou-me na mão e depois perguntou-me o que queria dele.
Foi então que senti os meus olhos marejarem-se de lágrimas. Não pude evitá-lo.
- Eu... Eu tinha pensado que talvez pudéssemos começar qualquer coisa - disse eu, tentanto não o olhar nos olhos com medo de que, se o fizesse, as lágrimas jorrassem dos meus. Comecei a aperceber-me que gosto de ti, que quero mais do que apenas uma amizade e isto - gesticulei em direcção aos nossos corpos unidos.  Mas creio que não.
O JB segurou-me na mão, desta vez com mais força.
- Abby, lamento. Não é que não haja atracção entre nós - é óbvio que há. Eu gosto muito de ti, tu és uma óptima companhia. Mas eu não sinto aquilo... a química... quando temos a certeza de que nos queremos envolver com alguém. Não sinto isso. E já pensei muito nisto, já ponderei a questão, mas não aconteceu, Desculpa.
Mordi o lábio, para impedir as lágrimas de caírem. Elas poderiam cair mais tarde, quando eu estivesse sozinha.
- Eu percebo - disse-lhe eu, com muita calma, como se fosse a coisa mais normal e descontraída do mundo ser rejeitada por alguém de quem gostamos muito. Não faz mal. Eu fico bem.
Ele sorriu-me.
- E continuaremos amigos, certo?
(Assenti com a cabeça, pensando: mas já não podemos ser amigos coloridos, não consigo lidar mais com isso.)
Beijámo-nos e deixámo-nos estar abraçados. Enquanto me deixava dormir, senti uma grande mistura de emoções: alívio por finalmente saber como estavam as coisas entre nós, frustrada por não poder continuar a fazer sexo fantástico com ele e tristeza por ele não querer estar comigo.
Sei que é estúpido e que devo concentrar-me em coisas positivas, mas quando me enrosquei junto a ele, não pude impedir-me de pensar: o que há de errado em mim, para ele não querer estar comigo?

em Rapariga de Ideia Fixa por Abby Lee
É sempre na altura em que apago a luz para, finalmente, adormecer que te apoderas do meu subconsciente. Aí, obrigas-me a abraçar a almofada como se fosses tu e a sonhar contigo. És mau para mim mas eu adoro-te.
Vem dormir comigo, esta noite. Agarra-me com força e faz de conta que nunca me vais querer perder, for favor. Eu preciso
Desta vez tinha decidido que iria ser para sempre. 
Farta do estado de desorganização em que me encontrava, arrumei tudinho. No final tinha-me mais leve e à minha frente estavam imensos livros, empilhados, prontos a serem guardados eternamente.  Talvez sirvam de amparo a alguém, um dia. Coloquei-os em caixas de cartão, fechei-as com fita castanha e quando, finalmente, estavam prontas a ser transportadas escrevi em cada uma delas a palavra FRÁGIL. Levei-as à loja do sr. Simões, o alfarrabista da cidade. Pedi-lhe que tomasse conta de cada um deles como se fossem realmente seus e disse-lhe também que estava à vontade para os vender ou pôr à disposição para consulta. Estava feito! Tudo, até então, estava, agora, entregue ao sr. Simões e eu tal como uma tela em branco pronta a ser pincelada. Disposta a ter em mim escrita uma nova história.
Passaram-se semanas, talvez meses, e, para além de não ter conseguido deixar ninguém escrever por cima daquela que já foi a tua folha de rascunho, precisei de te sentir. Quando cheguei à loja, pedi que me deixasse vê-los. Fui abrindo um a um... Todas as páginas em branco. Só aí percebi que tudo aquilo que vivemos a dois era impossível exprimir e que apesar de o ter escrito, eram memórias nossas e recordações. Que por isso tinham voltado para o sítio de onde saíram, dentro de nós, onde irão permanecer mesmo que lutemos contra isso.  
Lembra-te, meu amor, que não vais poder esquecer todas as conversas, que não vais poder esquecer as noites em que me beijaste a testa ao desejar-me boa noite e que não vais poder esquecer as vezes em que sonhamos juntos, agarrados um ao outro. Não vais poder esquecer o corpo em que tocaste, aquele que transpirava prazer sempre que o amavas. Lembra-te, meu amor, que porque assim o quiseste, não irei fazer mais parte do teu começar do dia. Eu sei bem o quanto gostavas dos meus beijos de bom dia, ainda assim bateste a porta com força e deixaste-me sozinha com o teu odor entranhado nas roupas de cama. 

- I need to know what you want from me, or from us. Where are we now?
- I don’t know.
- What do you want us to be?
- I don't know, Haley. I can't answer that right now.
- I can. I want us to be together.
- Why? I mean, we're so far away from… who we used to be. Why even fight for it?
- Because I love you.

Haley and Nathan in One Tree Hill
Quarta-feira. Metade da semana já tinha passado. Era dia de ir à lavandaria e, como todas as semanas, o cesto estava cheio. Separei as roupas por cores, tomei um duche rápido, apertei o cabelo e desci até à avenida principal. Ainda se viam os limpadores de vidros em acção mas as montras já limpas devem ter-se assustado à medida que passava.
Cheguei à lavandaria. Sempre o mesmo cheiro, a mesma temperatura. Imensa gente ali era algo a que não estava habituada. Mesmo assim havia ainda quatro máquinas livres. Peguei nas moedas que tinha no bolso e pus a lavar a primeira remessa.Terminou. Pu-la a secar. Retirei-a da máquina e quando me virei para continuar a tarefa que ainda não tinha terminado, reparei que o meu lugar tinha sido ocupado. Era ele: o rapaz do comboio! Tive logo ali a certeza de que seria o homem da minha vida. A maneira como os seus olhos tocaram nos meus e... como o vermelho que tinha nos lábios se fundiu com o encarnado daquilo a que chamam (meu) coração.
- Oh, desculpa! Não tinha reparado que a estavas a utilizar. Saio já, desculpa!
- Não tem mal. Tenho... tempo.
Houve um grande silêncio. As pessoas foram saindo à medida que cumpriam com o seu dever e as máquinas estavam livres mas o meu corpo tinha congelado e agora já nem as máquinas me interessavam. Não consegui perceber bem porquê mas entretanto só lá estávamos nós. Eu, tu e a nossa roupa! De novo um cruzamento de olhares... Desta vez de uma maneira ainda mais profunda. Não hesitei! Agarrei-te no pescoço e deixei que me beijasses com toda a vontade que eu sabia que tinhas. Senti o teu coração acelerar e percebi que o meu o queria acompanhar. A respiração conjunta, cada vez mais forte. Aí, corri até à porta, tranquei-a e tornei a palavra FECHADO visível a quem lá passasse. Fomos arrancando um ao outro, do corpo, as roupas que cada um de nós trazia e, quando, finalmente, ficamos tal como viemos ao mundo, estava pronta a amar-te durante o resto da minha vida. Não tinha imaginado ainda cenário tão perfeito... as nossas roupas espalhadas pelo chão, significando tudo o que deixamos para trás, enquanto nos possuíamos. Eu sempre soube que nos pertencíamos. Amar-nos é a nossa missão!


adorava dizer-te para ires mas com a certeza de que, mais tarde, irias voltar! só que assim não. não quero arriscar. prefiro ficar, aqui, e conhecer realmente todas as tuas incertezas.

(ensaio n.º 5 - pt. I)

(Um quarto comum. O tecto tem manchas de humidade e o papel de parede já velho começa a descolar das paredes. Existe uma janela com a caixilharia gasta também e, por baixo, lascas de madeira pintadas de branco que caíram. A tapá-la há um cortinado de organza amarelado com o tempo e, para além da cama de corpo e meio que está centrada com a cabeceira super trabalhada encostada à parede, há ainda um sofá antigo com um estampado floral do lado esquerdo. Do lado oposto existe uma estante, repleta de livros, coberta de pó e ao pé da cama, uma pequena mesinha de cabeceira da mesma gama da cama com um paninho de croché cru e um candeeiro em cima. Cheiro a madeira húmida. Black out. Música. Fade in sobre a cama. Sofia ainda dorme. A música sobe e a personagem acorda. Espreguiça-se, segue em direcção a uma porta que dá acesso à casa de banho e ainda de camisa de noite bege, sobe a persiana. Batem à porta. A música pára. Sofia abre a porta que acede à rua. É Vitória. Abraçam-se profundamente.)

Sofia: Bom dia, Vitória. (Silêncio. Olha nos olhos de Vitória.) Como estás?
Vitória: Não consigo… (Pausa.) Não consegui dormir um minuto, esta noite. O vento e a chuva conseguiram atormentar-me ainda mais.
Sofia: Não penses mais nisso, princesa. (Pega-lhe na mão.) Tens a certeza que estás preparada? Não será melhor deixar as coisas arrefecerem?
Vitória: Claro que não. Preciso de perceber porque é que ela me fez isto. Tenho quase a certeza que ela me vai explicar! Ela não partia sem se despedir de mim. Tenho a certeza, Sofia!
Sofia: Força, então! Vamos a isso, Vi. Com calma. Estou aqui, sabes bem.
Vitória: Cá está. (Tira um envelope da pasta. Pausa.) Abre, por favor! (Entrega-o a Sofia.)

(Abrem o envelope. Tiram uma folha A4 dobrada em três e um monte de fotografias. Música. Passa tudo o que tem nas mãos a Vitória. Vão vendo as fotografias e começam a escorrer-lhe alguma lágrimas pelo rosto. Leitura da carta em voz off por cima da música:)

“Olá Vitória,
Não sei bem em que altura é que vais ler a carta que te escrevo mas acho que te devo uma explicação, de qualquer maneira. Antes de mais, peço-te imensas desculpas por nunca ter falado sobre isto mas espero que compreendas a minha situação. Não é fácil viver sob o olhar opressor daqueles que te rodeiam e não sendo a principal causa, acabou por contribuir.
Não tenho uma explicação lógica! Aconteceu, simplesmente. Apaixonei-me e quando dei por mim era já impossível viver com isso. Foi uma história de amor perfeita que quebrou o meu pequeno coração de vidro, só isso. Ela pertence-lhe, eu sei disso! Quero que seja feliz e estou muito contente por não lhe ter estragado a vida.
Espero que saibas que te adoro muito e que independentemente de tudo és e serás para sempre a mulher da minha vida!
Até já, desculpa-me.
Amo-te.
Muitos beijinhos,
Carol”

Vitória: É impossível.
Sofia: Calma. Tenta percebê-la! É tua irmã. Adorava-te.
Vitória: Não consigo, Sofia. É impossível.