livres (?!)

"Uma gaivota voava voava: asas de vento, coração de mar. Como ela somos livres. Somos livres de voar."
Estava a chegar da escola. Pousei a mochila sobre o cadeirão, despi-me e atirei-me para o colchão. Reparei na janela que estava aberta e houve um brisa suave, quente, com cheiro a Primavera que entrou e me envolveu como se de um lençol de cetim se tratasse. Fiquei ali, ... deliciada com o cheiro a fresco que o meu quarto acabara de ser invadido.
Saltei da cama, vesti aquela t-shirt que deixaste comigo da última vez que cá estiveste. Ainda tinha o teu odor. Agarrei-a contra o meu peito e pensei Meu Deus, como é que foste capaz? Com toda a intenção foi? Peguei nos óculos de sol, que eram da mãe, que estavam em cima da cómoda branca e desci a escadas descalça com os dois chinelos na mão. Desatei a correr em direcção ao «nosso sítio». As borboletas passavam por mim e nem a cor das asas conseguia distinguir. Era tudo vago e distante. O mundo parecia parado.
Quando finalmente calquei aquele areal imenso, senti-me nas núvens. O sol não brilhava com a mesma intensidade. Agora já não te tinha comigo mas precisava de lá ir à mesma. Precisava de pensar. Aproximei-me do mar. Sentei-me e deixei cair os braços ao longo do corpo. Pousei a palma da mão na areia e depois cerrei um dos punhos com toda a força. Olhei bem para ela e à medida que ia relaxando, os grãozinhos frios e dourados escorriam por entre os dedos. Ali estavas tu. Vi-te desvanecer com o tempo sem nada poder fazer.
Pus os óculos e quando dei por ela, as minhas lágrimas já os meus lábios tinham salgado. Houve uma gaivota que, naquele instante, me sobrevoou. Como seria bom ser tão livre assim! Porque é que me dizem que o sou se me sinto presa a ti?

8 comentários:

  1. fugindo um pouco a este texto espectacular e baseado me no ultimo paragrafo. Todas as palavras que te dizem, baseiam se nas varias definições de livre, tu és livre e não és, na realidade és cativa do teu amor por ele, mas como sabes existem muitas liberdades, a liberdade de expressão, a liberdade de movimento, a liberdade de fazeres o que te dá a gana. Mas uma coisa é certa, nunca te vais sentir livre, presa a esse tamanho amor.

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  2. realmente tens toda a razão catarina, e este post veio mesmo a propósito do que ainda ontem falei com a minha mãe..
    nós não são realmente livres de todo, ao contrário do que nos dizem.
    temos tantos condicionantes de liberdade.
    a nossa liberdade depende sempre de alguém.

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  3. vê: "para a minha irmã" ;) pedro garcia

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  4. cada texto teu é para mim uma porta aberta para o mundo real!

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  5. acredita que sem bem ao que te referes :s infelizmente! o meu ultimo texto não retrata nada mais nada menos do que uma situação igual :x

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  6. e eu adoro-te a ti e tenho saudades sabes? beijinho meu amor lindo*

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  7. ;; ainda bem que a liberdade não paga imposto mas parece cada vez mais difícil consegui-la.

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  8. este texto marcou-me tanto que ontem no auditório quando o comecei a ouvir arrepiei-me toda e disse « eu já li isto » .
    tens mesmo muito jeito catarina, parabéns .

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