(ensaio n.º 5 - pt. I)

(Um quarto comum. O tecto tem manchas de humidade e o papel de parede já velho começa a descolar das paredes. Existe uma janela com a caixilharia gasta também e, por baixo, lascas de madeira pintadas de branco que caíram. A tapá-la há um cortinado de organza amarelado com o tempo e, para além da cama de corpo e meio que está centrada com a cabeceira super trabalhada encostada à parede, há ainda um sofá antigo com um estampado floral do lado esquerdo. Do lado oposto existe uma estante, repleta de livros, coberta de pó e ao pé da cama, uma pequena mesinha de cabeceira da mesma gama da cama com um paninho de croché cru e um candeeiro em cima. Cheiro a madeira húmida. Black out. Música. Fade in sobre a cama. Sofia ainda dorme. A música sobe e a personagem acorda. Espreguiça-se, segue em direcção a uma porta que dá acesso à casa de banho e ainda de camisa de noite bege, sobe a persiana. Batem à porta. A música pára. Sofia abre a porta que acede à rua. É Vitória. Abraçam-se profundamente.)

Sofia: Bom dia, Vitória. (Silêncio. Olha nos olhos de Vitória.) Como estás?
Vitória: Não consigo… (Pausa.) Não consegui dormir um minuto, esta noite. O vento e a chuva conseguiram atormentar-me ainda mais.
Sofia: Não penses mais nisso, princesa. (Pega-lhe na mão.) Tens a certeza que estás preparada? Não será melhor deixar as coisas arrefecerem?
Vitória: Claro que não. Preciso de perceber porque é que ela me fez isto. Tenho quase a certeza que ela me vai explicar! Ela não partia sem se despedir de mim. Tenho a certeza, Sofia!
Sofia: Força, então! Vamos a isso, Vi. Com calma. Estou aqui, sabes bem.
Vitória: Cá está. (Tira um envelope da pasta. Pausa.) Abre, por favor! (Entrega-o a Sofia.)

(Abrem o envelope. Tiram uma folha A4 dobrada em três e um monte de fotografias. Música. Passa tudo o que tem nas mãos a Vitória. Vão vendo as fotografias e começam a escorrer-lhe alguma lágrimas pelo rosto. Leitura da carta em voz off por cima da música:)

“Olá Vitória,
Não sei bem em que altura é que vais ler a carta que te escrevo mas acho que te devo uma explicação, de qualquer maneira. Antes de mais, peço-te imensas desculpas por nunca ter falado sobre isto mas espero que compreendas a minha situação. Não é fácil viver sob o olhar opressor daqueles que te rodeiam e não sendo a principal causa, acabou por contribuir.
Não tenho uma explicação lógica! Aconteceu, simplesmente. Apaixonei-me e quando dei por mim era já impossível viver com isso. Foi uma história de amor perfeita que quebrou o meu pequeno coração de vidro, só isso. Ela pertence-lhe, eu sei disso! Quero que seja feliz e estou muito contente por não lhe ter estragado a vida.
Espero que saibas que te adoro muito e que independentemente de tudo és e serás para sempre a mulher da minha vida!
Até já, desculpa-me.
Amo-te.
Muitos beijinhos,
Carol”

Vitória: É impossível.
Sofia: Calma. Tenta percebê-la! É tua irmã. Adorava-te.
Vitória: Não consigo, Sofia. É impossível.

4 comentários:

  1. muito obrigada catarina, é com grande felicidade que agradeço o teu comentário!
    sabe tão bem ter a alguém a apreciar o que escrevemos.
    coincidência, ou não, também adoro o teu blogue, e a ousadia com que o preenches.

    muitos beijinhos, e sabes que és sempre bem vinda!
    lígia machado

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  2. pois. não tenho andado bem, nada bem mesmo.
    sabes catarina, nunca me esqueço de um comentário que me fizeste à muito tempo atrás:
    "nós, as raparigas, costumamos ser um bocadinho assim!
    se querem q lhes demos um abraço pq é que não arriscam e não nos dão eles? se querem q os beijemos, pq é q não nos beijam? se nunca tentarem, nnc vão saber qual a nossa reacção e dps, nós, as meninas lindas e queridas, temos a mania q somos difíceis e acabamos por perder quem realmente queremos só pq não admitimos q afinal até queremos!"

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  3. Óh , tão querida :)
    O mesmo digo-te a ti Catarinaa :b
    Que ´carta tão bonitaaa , confesso que até chorei :O , LOL xD

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  4. Sim, são três :) eu já morei em vários países, dai a "intelectualidade literária" :)

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