Quarta-feira. Metade da semana já tinha passado. Era dia de ir à lavandaria e, como todas as semanas, o cesto estava cheio. Separei as roupas por cores, tomei um duche rápido, apertei o cabelo e desci até à avenida principal. Ainda se viam os limpadores de vidros em acção mas as montras já limpas devem ter-se assustado à medida que passava.
Cheguei à lavandaria. Sempre o mesmo cheiro, a mesma temperatura. Imensa gente ali era algo a que não estava habituada. Mesmo assim havia ainda quatro máquinas livres. Peguei nas moedas que tinha no bolso e pus a lavar a primeira remessa.Terminou. Pu-la a secar. Retirei-a da máquina e quando me virei para continuar a tarefa que ainda não tinha terminado, reparei que o meu lugar tinha sido ocupado. Era ele: o rapaz do comboio! Tive logo ali a certeza de que seria o homem da minha vida. A maneira como os seus olhos tocaram nos meus e... como o vermelho que tinha nos lábios se fundiu com o encarnado daquilo a que chamam (meu) coração.
- Oh, desculpa! Não tinha reparado que a estavas a utilizar. Saio já, desculpa!
- Não tem mal. Tenho... tempo.
Houve um grande silêncio. As pessoas foram saindo à medida que cumpriam com o seu dever e as máquinas estavam livres mas o meu corpo tinha congelado e agora já nem as máquinas me interessavam. Não consegui perceber bem porquê mas entretanto só lá estávamos nós. Eu, tu e a nossa roupa! De novo um cruzamento de olhares... Desta vez de uma maneira ainda mais profunda. Não hesitei! Agarrei-te no pescoço e deixei que me beijasses com toda a vontade que eu sabia que tinhas. Senti o teu coração acelerar e percebi que o meu o queria acompanhar. A respiração conjunta, cada vez mais forte. Aí, corri até à porta, tranquei-a e tornei a palavra FECHADO visível a quem lá passasse. Fomos arrancando um ao outro, do corpo, as roupas que cada um de nós trazia e, quando, finalmente, ficamos tal como viemos ao mundo, estava pronta a amar-te durante o resto da minha vida. Não tinha imaginado ainda cenário tão perfeito... as nossas roupas espalhadas pelo chão, significando tudo o que deixamos para trás, enquanto nos possuíamos. Eu sempre soube que nos pertencíamos. Amar-nos é a nossa missão!


2 comentários:

  1. tens noção do quão magnifico isto está?

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  2. sim, a serio! é engraçado ver que naquilo que escreves, usas as mesmas palavras que eu usaria.

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